O Canto da Sereia

O Canto da Sereia

Quem já ouviu falar de sereias no Lago Paranoá? Sophia, com seus 7 anos, nunca tinha ouvido, mas sua prima Laura, de 8 anos, jurava que era verdade! Laura estava passando as férias em Brasília, na casa de Sophia, e tinha uma imaginação que não cabia dentro de casa.

“Sereias não existem, Laura!”, disse Sophia, enquanto chutava a bola no quintal. “Elas só existem em livros de histórias.” Sophia amava futebol quase tanto quanto amava histórias de monstros, e para ela, sereias não eram muito diferentes de lobisomens e vampiros.

“Mas e se elas existirem e só saírem à noite?”, Laura insistiu, com um brilho misterioso nos olhos. “Elas cantam tão lindo que as pessoas ficam encantadas e...” Laura fez uma pausa dramática. “...nunca mais voltam!”

Sophia tentou parecer corajosa, mas a ideia de criaturas mágicas cantando no lago perto de casa lhe dava um frio na barriga. “Isso é bobagem! Você está inventando!”, ela respondeu, tentando soar mais confiante do que realmente estava.

Mas Laura, teimosa como sempre, continuou. “Minha mãe disse que, quando ela era pequena, ouviu um canto lindo vindo do lago. Ela nunca mais chegou perto da água à noite!”.

Naquela noite, enquanto Sophia tentava dormir, as palavras de Laura ecoavam em sua mente. "Responsabilidade, Sophia”, ela pensou. “Se realmente existem sereias e elas podem machucar alguém?”.

Ela olhou para o quintal banhado pelo luar. O vento soprava, fazendo as folhas das árvores farfalharem como se estivessem sussurrando segredos. A curiosidade e a necessidade de proteger as pessoas que amavam falaram mais alto que o medo.

Sophia, pé ante pé, desceu da cama e pegou sua lanterna. Abriu um espacinho na cortina da janela do seu quarto, que dava para o quintal. O lago, normalmente calmo e convidativo durante o dia, agora parecia escuro e ameaçador. Engolindo o medo, Sophia abriu a janela e, com o coração batendo forte, pulou para o quintal.

A grama úmida estava fria sob seus pés descalços. O vento soprava mais forte agora, e Sophia podia jurar que ouvia um leve canto vindo da direção do lago. Um canto suave e melodioso, que mais parecia um chamado.

Com a lanterna na mão, ela se aproximou cautelosamente da margem. A lua refletia na superfície escura da água, criando sombras assustadoras que dançavam ao ritmo do vento. De repente, um movimento na água fez Sophia prender a respiração.

Uma figura escura emergiu lentamente, e Sophia pôde ver longos cabelos negros e brilhantes caindo sobre ombros delicados. A criatura virou o rosto para Sophia, e seus olhos brilharam com uma luz estranha. Sophia fechou os olhos, com o coração batendo forte.

“Olá?”, uma voz suave e musical quebrou o silêncio. “Você também ouviu o canto?”

Sophia abriu os olhos lentamente. Diante dela, empoleirada em uma pedra na beira do lago, estava uma menina. Ela tinha a mesma idade de Sophia, com olhos azuis brilhantes como o céu e um sorriso gentil. Seus cabelos escuros e longos estavam enrolados em algas, e ela usava um vestido esfarrapado feito de lírios.

“Quem é você?”, Sophia perguntou, ainda assustada, mas intrigada.

A menina sorriu. “Sou Luna. E você é a menina corajosa que veio me ver?”

Sophia respirou fundo. “Sou Sophia. Eu ouvi um canto… achei que fosse uma sereia.”

Luna riu. “Uma sereia? Que ideia engraçada! As pessoas confundem o meu canto com o delas. Eu canto para atrair os vaga-lumes, eles gostam da minha música”. Luna apontou para a grama, onde centenas de vaga-lumes piscavam em resposta ao seu canto.

Sophia se sentiu aliviada. Era só uma menina que gostava de cantar! A responsabilidade que sentiu a fez enfrentar seus medos e descobrir que nem sempre o que parece é a realidade.

Naquela noite, Sophia voltou para a cama com o coração mais leve, sabendo que não havia sereias perigosas no Lago Paranoá, apenas uma menina solitária com uma voz encantadora e um amor por vaga-lumes. E, quem sabe, uma nova amiga esperando para ser descoberta.

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