Laura estava no quintal, brincando com sua boneca de pano, quando viu Sophia chegar com um sorriso misterioso.
— Adivinha o que eu descobri! — disse Sophia, os olhos brilhando.
— O quê? — perguntou Laura, curiosa.
— Um gato falante! — sussurrou Sophia.
Laura arregalou os olhos. Um gato falante? No quintal delas, em Recife? Parecia impossível! O quintal, com suas árvores frondosas e flores coloridas, era o lugar preferido das duas para brincar, mas nunca tinham visto nada assim.
— Você está brincando? — Laura deu risada.
— É sério! — Sophia a puxou pela mão. — Venha ver!
Elas correram para trás do grande pé de manga, onde Sophia tinha feito uma cabana com lençóis velhos. No meio da cabaninha, um gatinho preto, com olhos verdes brilhantes, as observava.
— Viu? — Sophia sussurrou. — Ele fala!
Laura se aproximou devagar. O gatinho a encarou, e de repente, miou. Um miado diferente, longo e arrastado, que parecia formar palavras. Laura sentiu um arrepio na espinha. Seria mesmo um miado falante?
— O que ele disse? — perguntou Laura, assustada.
— Ele disse... — Sophia fez uma pausa dramática — que este quintal é mal-assombrado!
Laura engasgou. Fantasmas? No quintal delas? O coração da menina começou a bater mais rápido. Ela olhou ao redor, procurando qualquer sinal de algo estranho.
— E o que mais ele disse? — perguntou Laura, a voz trêmula.
— Ele disse que o fantasma aparece à meia-noite — Sophia sussurrou. — E que ele precisa da nossa ajuda para encontrar paz.
Laura, mesmo com medo, sabia que não podia deixar o gatinho e o fantasma sozinhos. A amizade que sentia por Sophia era mais forte que qualquer medo. As duas decidiram então que iriam voltar ao quintal à noite e ajudar o fantasma, custe o que custasse!
Enquanto isso, contaram tudo para os pais, que, é claro, não acreditaram na história do gato falante. Mas permitiram que as meninas dormissem na mesma cama, para o caso de uma delas ter pesadelos com fantasmas.
À noite, quando a lua iluminava o quarto, Sophia e Laura se levantaram em silêncio. Os olhos do gato preto brilhavam no escuro, como se ele estivesse esperando por elas.
No quintal, tudo parecia diferente. As sombras das árvores dançavam com o vento, e o menor barulho fazia o coração das meninas disparar. Elas se aproximaram da mangueira, onde o gato as esperava.
— Ele disse que o fantasma está preso na árvore — sussurrou Sophia.
— E que precisamos cantar uma música para libertá-lo — miou o gato, com sua voz fantasmagórica.
Sophia e Laura se entreolharam. Uma música? Que música um fantasma gostaria de ouvir? Sem saber ao certo o que fazer, começaram a cantar uma cantiga de ninar que sua avó havia lhes ensinado.
Enquanto cantavam, um vento frio soprou entre as folhas da mangueira, e as luzes da casa começaram a piscar. De repente, um vulto branco e brilhante surgiu entre os galhos!
Sophia e Laura se abraçaram, apavoradas. O fantasma era real! Mas para a surpresa delas, o vulto não era assustador. Parecia mais uma bolha de sabão gigante, flutuando no ar.
— Obrigada — sussurrou uma voz suave. — Vocês me libertaram!
E num piscar de olhos, o vulto desapareceu, assim como o vento e o frio. As luzes da casa voltaram ao normal, e tudo ficou em silêncio. Sophia e Laura se olharam, boquiabertas.
No dia seguinte, elas voltaram ao pé de manga, mas o gatinho preto havia sumido. Só restava a lembrança daquela noite assustadora e emocionante, e a certeza de que a amizade delas era capaz de superar qualquer desafio, até mesmo ajudar um fantasma a encontrar a paz.